Brasília. A presidente Dilma Rousseff afirmou ontem que o programa Bolsa Família foi criado para ser não apenas a porta de saída da miséria, mas também a porta de entrada em um mundo com futuro e esperança. Em evento de celebração de 10 anos do programa de transferência de renda, Dilma disse que o Bolsa Família é um "programa simples" e que as tecnologias mais sofisticadas nascem de ideias simples.
"É assim que nascem as tecnologias mais sofisticadas, e o Bolsa Família é uma tecnologia sofisticada", afirmou. Segundo ela, o programa funciona tão bem porque tem continuidade. Ela destacou que, sem tratá-lo de forma cuidadosa, não seria possível chegar aonde se chegou com o programa.
"Mesmo tendo nascido ótimo, esta continuidade permitiu que ele fosse melhorado pelo empenho e criatividade de todos", destacou. A presidente disse que, após a introdução do programa Brasil Sem Miséria na sua gestão, o País tem um programa "Bolsa Família renovado". Segundo ela, o novo programa adicionou melhorias ao conteúdo.
"O Bolsa Família tem muitos êxitos e muitos resultados positivos. Ele consegue, conseguiu e conseguirá gerar mudanças na vida de cada um dos beneficiários e também com resultados coletivos", afirmou.
A presidente disse considerar um "absurdo" determinar para o beneficiário do programa onde ele deveria gastar o dinheiro do Bolsa Família. "É justamente por isso que ele (o programa) não é esmola, ele é uma transferência de renda (...) para aquela parte da população que o Estado brasileiro (...) tem uma dívida", destacou. Em seu discurso, ela fez diversos elogios ao seu padrinho político, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Segundo Dilma, que integrou grupos de resistência à ditadura militar, sua geração acreditava que as transformações "só eram possíveis com as armas". "Com o senhor (Lula) aprendemos que a verdadeira transformação é feita unindo as nossas mãos às mãos dos nossos irmãos. Descobrimos que a energia pacífica é a grande força motriz da história".
Foi assim, disse Dilma, que em uma década foi possível fazer com que 36 milhões de pessoas saíssem da miséria. "Em breve, vamos varrer a miséria absoluta do nosso território", disse.
A presidente destacou o impacto do programa na economia brasileira. Citando um estudo recente elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), segundo o qual o Bolsa Família é o programa social com maior reflexos econômicos, a presidente disse que cada R$ 1 transferido representa R$ 1,73 para o PIB.
Desigualdade
O ex-presidente Lula afirmou que se estivesse iniciando seu governo agora, com a experiência que conquistou, começaria da mesma forma, combatendo a fome e a desigualdade. Lula lembrou de sua origem pobre e disse que os que criticam o Bolsa Família nunca passaram fome.
Para ele, são preconceituosos os que afirmam que o pobre está no Bolsa Família porque não quer trabalhar. "O que essa crítica denota é uma visão extremamente preconceituosa. Significa dizer que a pessoa é pobre por indolência, e não porque nunca teve uma chance real em nossa sociedade", contou.
Lula afirma que pode se candidatar em 2018
Brasília. Em almoço que participou na tarde de ontem no Senado, o ex-presidente Lula disse, em tom de brincadeira, que está fazendo duas horas de exercícios físicos todos os dias para entrar em forma e que, se "encherem o saco", estará de volta em 2018. Segundo políticos que estiveram no almoço, realizado no gabinete da liderança do PTB, Lula fez o comentário logo após fazer uma avaliação de que Eduardo Campos (PSB-PE) e Aécio Neves (PSDB-MG) terão problemas para administrar suas "sombras", a ex-senadora Marina Silva e o ex-governador José Serra, respectivamente.
O petista teria dito, nesse momento, que Campos "se enrolou de vez" ao aceitar o apoio de Marina, que aparece à sua frente em todas as pesquisas de intenção de voto para o Palácio do Planalto. Ao declarar isso, alguém perguntou a Lula se ele não se considerava uma "sombra" da presidente Dilma Rousseff. Ele negou, segundo participantes, reafirmando que seu objetivo principal agora é reeleger Dilma, mas emendou a declaração, em tom de brincadeira, segundo a qual tem se preparado diariamente para, se lhe "encherem o saco", voltar a se candidatar em 2018.
Para Lula, "Marina precisa parar de aceitar com facilidade" lições que estaria tomando na área de economia. "A Marina precisa só compreender o seguinte: ela entrou no governo junto comigo em 2003 e sabe que o Brasil tem hoje mais estabilidade em todos os níveis que a gente tinha quando entramos. Herdamos do FHC um País muito inseguro, não tinha nenhuma estabilidade, não tínhamos dinheiro sequer para pagar as exportações".
Senador quer transformar programa
Brasília. Possível adversário da presidente Dilma Rousseff nas eleições de 2014, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) apresentou ontem projeto de lei que transforma o Bolsa Família em um programa de Estado.
Pela proposta, o benefício - que é a principal bandeira eleitoral da presidente - seria incorporado à Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS) para se tornar permanente, atrelado às políticas públicas de assistência social e erradicação da pobreza no País. O projeto de Aécio é uma reação às declarações do ex-presidente Lula de que, se a oposição assumir o comando do País, poderá extinguir o Bolsa Família. Aécio disse que as famílias do programa não podem conviver com o "terrorismo" de sua extinção, com ameaças feitas por aliados da presidente que desejam se "perpetuar no poder".
"Em toda véspera de eleição, há sempre a tentativa de colocar o Bolsa Família como patrimônio de um partido ou de um governo. Não é. O Bolsa Família, a partir da aprovação desse projeto - que eu espero que ocorra com o apoio do PT, porque se não ocorrer esse apoio é porque querem eternizar a utilização política do programa - queremos transformá-lo em uma política de Estado. Não há mais espaço para manipulação eleitoral de um programa importante".
Aécio apresentou o projeto no dia em que o governo realizou solenidade para comemorar os dez anos do Bolsa Família, com a presença de Dilma e Lula. O tucano disse que sua maior homenagem aos beneficiários do Bolsa Família é "tirar-lhes o tormento, a angústia de serem atemorizados pela irresponsabilidade e leviandade de alguns que acham que seus adversários irão interromper o programa".
Em mais uma resposta a Lula, que na solenidade acusou jornalistas e políticos da oposição de decretarem que o programa "estimula a preguiça" e é uma "simples esmola", Aécio disse que o único que considerou o benefício uma "esmola" foi o próprio ex-presidente petista.
"Eu me lembro de apenas um personagem que caracterizou os programas de transferência de renda em esmola, exatamente o candidato Lula no debate de 2002, no segundo turno contra José Serra. Ali ele caracterizava os programas de transferência de renda que foram o embrião do Bolsa Família em esmola. Apenas volto a esse passado que é uma grande contradição", disse o tucano. Para Aécio, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso deveria ter sido o "convidado de honra" do evento dos dez anos do Bolsa Família por ter criado o seu "embrião".
Fonte: Diário do Nordeste